ENTREVISTA PARA MARIE CLAIRE - 16/06/2011
Glória Coelho: “Somos todos poeira de estrela”
“Plutão estava na casa de Escorpião, o signo mais sexual do zodíaco, no início dos anos 90, quando o mundo sofria as consequências fatais da aids. Na década seguinte, Bin Laden jogou os aviões contra as torres gêmeas, e Plutão já estava em Sagitário, o signo da religião. Agora, em 2010, o planeta está em Capricórnio, que remete à estrutura, à terra. Será que o deslizamento em Angra dos Reis, o terremoto no Haiti e a erupção do vulcão islandês não têm relação com isso?”, pergunta a estilista Gloria Coelho, em nosso primeiro encontro. Minutos depois, é a física quântica que rege a conversa. “Você já pensou que, se a Terra surgiu de uma explosão, eu e você somos poeira de estrela?” E, na sequência, é a vez da cabala. “No livro sagrado dos judeus está escrito que não devemos perder a espontaneidade da criança. Me diga, sem pensar, o que você quer para sua vida.”
Metralhadora filosófica de estilo, Gloria Coelho é assim: um anjo vestido de negro, capaz de deixar o interlocutor sem palavras, diante de perguntas enigmáticas e de seus desfiles emocionantes. Aos 58 anos, ela vive um momento especial. Separou-se do estilista Reinaldo Lourenço, “o amor de sua vida” por mais de duas décadas e, dois dias depois, perdeu a mãe, Yollah, de 81 anos. “Um trator passou na minha vida”, afirma, 17 quilos mais magra, graças aos cuidados com a alimentação e ao resgate do antigo hábito de fumar. No início de maio, Gloria recebeu Marie Claire em sua casa, em São Paulo, para falar de sua rotina, dos desafios da moda brasileira e de amor. Muito amor.
GC Fartura. Mesmo que eu não vá comer, gosto de mesa farta, bonita.
MC Você nasceu em Pedra Azul, na divisa de Minas com a Bahia, e cresceu em Itabuna. Que lembranças guarda da infância?
GC Nasci em Pedra Azul, mas morei a infância em Itabuna, na Bahia, até ser interna em Ilhéus, no colégio Nossa Senhora da Piedade, aos 7 anos. Meus pais começaram a mudança para São Paulo e precisavam se organizar, por isso o internato. Os baianos são a turma mais livre do mundo, né? Outro dia, a mãe de uma amiga de infância me disse que adorava meus pais porque, quando chegamos a São Paulo, eles faziam questão de cumprimentá-la, apesar de ela estar separada do marido, o que era malvisto por aqui. Fui criada sem preconceitos nem críticas. Para os baianos não tem judeu, árabe, branco nem negro. É tudo livre, misturado.
MC Como foi sua chegada a São Paulo? Estranhou muito?
GC Fomos morar num prédio na Av. Nove de Julho e minha melhor amiga no condomínio era a Traudi [Guida, dona da Le Lis Blanc]. Íamos juntas, a pé, para o balé, no Teatro Municipal. Tínhamos só 9 anos e éramos tão livres. A cidade era mais chique, verde e refinada. Assistia aos filmes no [cineclube] Metrópolis e sentia aquele vento gostoso no meu rosto. Amo São Paulo. Sou mais paulista do que baiana.
MC Como é sua rotina?
GC Faço ioga três vezes por semana, às 7h30. Depois, tomo um banho e vou para a fábrica, com [os golden retrievers] Tommy e Doug. Eles adoram trabalhar comigo. Geralmente almoço com algum amigo, em um restaurante. Daí, volto para a fábrica, onde fico até às 19h. Em casa, leio um livro, assisto a um filme, vejo imagens, desenhos. Tudo que alimenta o meu trabalho. Depois que minha mãe morreu e me separei do Reinaldo, adquiri um novo hábito contra a solidão: o facebook. Para não deixar muita gente me espiar, sou cuidadosa. Adoro, mas não fico amiga de qualquer um.
GC Não! Meus amigos são incríveis. Não tenho tempo de sentir solidão. Me sentia mais antes de me separar e de perder minha mãe. Vivia mais para a família. Agora vivo para mim, me cuido. Procuro mais as pessoas e sou mais procurada.
MC Você e Reinaldo ficaram 25 anos juntos. Como foi a separação?
GC Nos separamos no dia 16 de agosto e minha mãe morreu no dia 18. Teve um AVC [acidente vascular cerebral], do nada. Um trator passou na minha vida. Eu amava o Reinaldo. Amava muito e não queria que isso tivesse acontecido. Mas ele quis assim. Chorei um mês e meio. E não sabia se era por ele ou pela minha mãe. Só sabia chorar. Como não podia me consolar nem com um, nem com outro, corri para minha irmã. Ela me ajudou muito. As pessoas, nessas horas, tomam remédio. Eu não. Eu tomava passiflora, fazia acupuntura e, à noite, recorria à meditação da Louise Hay, autora de Você tem o poder da sua cura, um livro maravilhoso [que é uma espécie de bíblia da estilista]. A dor era tanta, que, no início, senti o sangue parar de circular pelo meu corpo.
MC Ele pediu a separação por estar envolvido com outra pessoa?
GC Prefiro não falar sobre isso. [Gloria pede que eu desligue o gravador, conta detalhes da separação e elogia o ex-marido. Segundo ela, “extremamente íntegro” ao assumir o que sentia.]
MC Na época, ficou aflita para casar de novo? A sociedade cobra isso das mulheres...
GC Queria muito ter filho. E não era por pressão da sociedade, mas pela Lua em Câncer [risos]. Só não tive mais filhos porque não consegui. Amo as crianças e as coisas de crianças: Harry Potter, Mortal Kombat, a Bela e a Fera, andar a cavalo. Na cabala, dizem que a criança tem uma espontaneidade que nunca deveríamos perder. Isso é mágico. Não vejo a hora de ter netos. Imagine que alegria uma criança nesta casa? Só não adoto porque tenho trabalhado tanto que estou sem tempo para mim. Neste momento, sou minha prioridade.
GC O Pedro ainda é menino. Tem só 19 anos e se divide entre Paris, São Paulo e Nova York. Quando me separei e minha mãe morreu, ele veio para cá e ficou direto comigo. Mas geralmente, fica lá e cá. O KCD, empresa que cuida da carreira dele lá fora, tem sede em Nova York. Ele é minha melhor criação. Na Saint Martin’s [renomada faculdade de moda da Inglaterra], disseram que o Pedro não podia estudar porque já sabia demais e ficaria entediado. Olha que absurdo! Só o networking já seria enriquecedor. No fim, o Pedro ficou em Paris, fez um curso excelente de modelagem. Mergulhou nos livros. Devorou Baudelaire e viu todos os filmes que podia.
MC Como Pedro, você também foi uma garota precoce?
GC Adorava fazer colagens, poemas e colares. Fiz colegial técnico visual de desenho em comunicação, o IADE. A gente pintava, desenhava e tinha aulas incríveis sobre a lei da expressão, o desenho de composição, francês, filosofia. Ali, fiz duas grandes amigas, a Ângela [Rangel, psicóloga] e a Marta [Muratório, arquiteta]. Como sempre gostei muito de dinheiro, inventávamos de tudo para consegui-lo! Até suco de papaia para digestão, eu vendi. Depois, como a Marta era sobrinha de um dos donos da Sharp, começamos a fazer biju com pecinhas de equipamentos eletrônicos. Aí um dia, indo comprar cordão para pôr nas bijuterias, conheci uma senhora no Shopping Iguatemi que fazia roupas de criança e propus que ela fizesse umas camisetas transadas para a gente vender. Deu tão certo que, em três meses, cada uma de nós podia comprar um carro com o dinheiro que ganhou! A vida era assim, “Ai, que vento”. “Nossa, tá chovendo?” “Não tem táxi? Tudo bem, tudo bem. Tá tudo lindo!”. Em 1974, quando abri a G com a minha irmã, as coisas foram ficando mais sérias.
GC Sou dura, mas afetuosa. A falta de obediência é o que mais me tira do sério. Há três meses, sonhei que pessoas não me obedeciam e acordei péssima! Pesadelo mesmo. A empresa tem regras e elas têm de ser cumpridas. Há dois anos, digo que não quero mais apostila para as vendedoras, quero um filme explicativo. Outro dia desses, quiseram me convencer de que poderíamos abrir mão do vídeo porque “as gerentes não querem” [imitando]. Fui obrigada a dizer: “Vem cá, e as gerentes sabem mais que o Bernard Arnault [presidente do grupo de luxo LVMH, que tem um videomodelo de treinamento]?”. Esse tipo de coisa me enlouquece. Gosto de funcionárias como as assistentes da personagem de Meryl Streep em O diabo veste Prada: obedientes.
MC Quantos funcionários você tem e como os contrata?
GC São cerca de 100 funcionários e, em 35 anos de loja, nunca demiti. Quem saiu foi porque quis ou se aposentou. Agora, só eu faço as contratações. Vejo se o candidato durou em lugares sérios, faço um monte de perguntas e fico sentindo a pessoa. Aí, ainda faço o mapa astral dela. Se for mau caráter ou desonesta, está lá. Estou com 58 anos, cansada e não quero mais qualquer coisa do meu lado.
GC É. Costumo brincar que nasci na Escandinávia e um disco voador me trouxe para a Bahia. Admiro a frieza dos escandinavos. No Brasil, somos muito quentes. Até para criticar, elogiamos. Sou contra. Parto do princípio que o interlocutor é inteligente e sabe que a crítica vai ajudá-lo a se aprimorar. Só que isso não é nada político, né?
MC Já se arrependeu de falar algo pouco político?
GC Prefiro ser sincera com relação ao que penso. Em reuniões da Abit [Associação Brasileira da Indústria Têxtil] ou da Abest [Associação Brasileira de Estilistas] falo muito sobre a imagem equivocada que vendemos do Brasil no exterior. Se não tivermos cuidado, em vez de exportar qualidade e bom gosto, será só brasilidade. Não sei se pega bem, mas eu falo. Digo as coisas mais duras, com amor. Na empresa, porém, pretendo mudar. Quero ser mais distante, mais business woman. Desde 2001, faço coaching com a [jornalista] Fátima Ali. Ela me ensina a pensar além da roupa e a ver a fábrica com seus diferentes setores. Logo, logo vou até conseguir demitir [risos].
MC Qual o perfil da mulher para a a qual você desenha?
GC Hoje, 60% do meu faturamento é de roupa de festa. Pegamos uma faixa de mulheres que quer roupa
sofisticada. E também focamos na mulher que trabalha. Os ricos são só 1% do mundo, já as mulheres que trabalham, 20%. Ou seja, juntas, a juíza, a arquiteta, a dentista e todas elas têm um poder de consumo maior.
MC O que você acha de estilistas que vendem suas marcas para grandes conglomerados de moda?
GC Acho o máximo. Eu venderia. Tem um grupo aí que é muito bom [risos]. Não vou falar o nome porque quero me preparar bem antes de vender.
GC Segundo a física quântica, somos todos poeira de estrela, eu e você e todo mundo. Tem quem ache que isso é papo chato de autoajuda. Mas é ciência. E está muito bem explicado no livro-filme Quem somos nós, no qual vários pesquisadores dão seus depoimentos sobre o tema. Um deles [o japonês Masaru Emoto] fotografou as moléculas de água de uma fonte que recebeu a bênção de um monge budista e percebeu que, depois da bênção, elas tinham um desenho mais bonito e harmônico do que antes. Se cerca de 70% do corpo humano é água, um pensamento positivo teria esse mesmo efeito “do bem” sobre nós. Por isso, é tão importante a gente saber o que quer, para atrair a coisa certa. O problema é que nossos desejos nem sempre são claros. Me diga, agora: o que você quer de verdade da sua vida? Você não sabe...
MC E você, sabe?
GC Eu quero que minha coleção seja linda, comercial e inovadora; que o Pedro seja muito feliz, cheio de luz e energia. Boto tudo isso no livro quântico que estou escrevendo. Escrevo lá todos os meus desejos.
MC E, para você mesma, o que costuma pedir?
GC O mesmo que peço pro Pedro, muita luz. Alegria, alegria, alegria [fala 16 vezes a palavra alegria]. E um namorado bem lindinho também... MC Casaria de novo?
GC Casaria. Mas queria uma relação moderna, em que cada um tivesse sua casa. Já pensou que delícia poder visitar seu marido? Dormir na casa dele, e ele na sua? Sou 1 [na numerologia] porque nasci dia 1o [de agosto de 1951]. Por mais que goste de intimidade e de estar juntinho, adoro minha individualidade.
MC Com esse lado esotérico tão desenvolvido, você já recebeu alguma mensagem especial?
GC Todos os dias eu rezo pros meus anjos da guarda e para os de quem gosto. Já recebi mensagens deles. Há 14 anos, fiz um tratamento de abundância com a terapeuta floral Ruth Toledo. Depois de um mês de tratamento, há um dia em que dizem que você tem de falar com seus anjos. Eu estava no carro, dirigindo e recebi a seguinte mensagem: “Ajude as crianças pobres que isso é muito importante para você”. Parece mentira, mas quando eu cheguei à fábrica, um grande amigo que trabalha comigo disse: “Preciso fazer um desfile para crianças pobres, na praça da Sé, a pedido do consulado da França”. Fiz e foi maravilhoso.
MC Como a sensibilidade ajuda no trabalho? Lembro de um desfile, de 2005, em que as modelos vestiam pétalas. Era de uma delicadeza...
GC Meu signo é Leão, que no fundo não passa de um gato gigante, e tenho ascendente em Peixes [signo conhecido por sua sensibilidade]. A escolha das músicas, a maquiagem, a roupa, tudo constrói essa delicadeza. Mas esse desfile a que você se refere aconteceu no dia em que meu pai morreu [de mielofibrose, doença sanguínea que se assemelha a leucemia]. Ele faleceu às 3 h da manhã e o desfile foi às 3 h da tarde, do dia 3. Louco, né? É que meu pai era vibração 3. Nasceu no dia 21 [soma-se 2 com 1]. Nesse dia, não dei uma entrevista nem subi na passarela. Vim para casa e fui dormir. Na realidade, eu achava que meu pai não ia morrer... Olha que loucura. Fiz um desfile todo de flores justamente no dia em que deixei meu pai todo de flores [no caixão].
MC Sempre houve certo mito em relação à “família real” da moda brasileira. Como se você, Pedro e Reinaldo tivessem hábitos e crenças diferentes dos de seres humanos normais. De onde vem isso e até que ponto é verdade?
GC Meus últimos desfiles foram “O ET abduziu a duquesa”, “Os fractais”, da física quântica, e “O Universo”. Talvez por isso o mito. Mas em casa tudo sempre funcionou como em qualquer outra família. Desde que saí da casa da minha mãe, aos 26 anos, só dei sorte com as minhas ajudantes. É carmático. A Graça está comigo há 24 anos e é quem manda aqui, faz supermercado. Eu só compro vinhos. Também, é capricorniana, né? Tem paixão pelo Pedro e adora os [três] cachorros, as [duas] tartarugas e a Dodô, nosso peixinho. A Dodô é tão fofa que estou até com dó de comer peixe [por coincidência, o cardápio do nosso almoço]. Quando o Reinaldo e o Pedro moravam aqui, cada um gostava de uma coisa, e Graça mimava todos.
MC Seus mimos quais eram?
GC Fartura. Mesmo que eu não vá comer, gosto de mesa farta, bonita.
MC Você nasceu em Pedra Azul, na divisa de Minas com a Bahia, e cresceu em Itabuna. Que lembranças guarda da infância?
GC Nasci em Pedra Azul, mas morei a infância em Itabuna, na Bahia, até ser interna em Ilhéus, no colégio Nossa Senhora da Piedade, aos 7 anos. Meus pais começaram a mudança para São Paulo e precisavam se organizar, por isso o internato. Os baianos são a turma mais livre do mundo, né? Outro dia, a mãe de uma amiga de infância me disse que adorava meus pais porque, quando chegamos a São Paulo, eles faziam questão de cumprimentá-la, apesar de ela estar separada do marido, o que era malvisto por aqui. Fui criada sem preconceitos nem críticas. Para os baianos não tem judeu, árabe, branco nem negro. É tudo livre, misturado.
MC Como foi sua chegada a São Paulo? Estranhou muito?
GC Fomos morar num prédio na Av. Nove de Julho e minha melhor amiga no condomínio era a Traudi [Guida, dona da Le Lis Blanc]. Íamos juntas, a pé, para o balé, no Teatro Municipal. Tínhamos só 9 anos e éramos tão livres. A cidade era mais chique, verde e refinada. Assistia aos filmes no [cineclube] Metrópolis e sentia aquele vento gostoso no meu rosto. Amo São Paulo. Sou mais paulista do que baiana.
MC Como é sua rotina?
GC Faço ioga três vezes por semana, às 7h30. Depois, tomo um banho e vou para a fábrica, com [os golden retrievers] Tommy e Doug. Eles adoram trabalhar comigo. Geralmente almoço com algum amigo, em um restaurante. Daí, volto para a fábrica, onde fico até às 19h. Em casa, leio um livro, assisto a um filme, vejo imagens, desenhos. Tudo que alimenta o meu trabalho. Depois que minha mãe morreu e me separei do Reinaldo, adquiri um novo hábito contra a solidão: o facebook. Para não deixar muita gente me espiar, sou cuidadosa. Adoro, mas não fico amiga de qualquer um.
MC Tem se sentido mais solitária?
GC Não! Meus amigos são incríveis. Não tenho tempo de sentir solidão. Me sentia mais antes de me separar e de perder minha mãe. Vivia mais para a família. Agora vivo para mim, me cuido. Procuro mais as pessoas e sou mais procurada.
MC Você e Reinaldo ficaram 25 anos juntos. Como foi a separação?
GC Nos separamos no dia 16 de agosto e minha mãe morreu no dia 18. Teve um AVC [acidente vascular cerebral], do nada. Um trator passou na minha vida. Eu amava o Reinaldo. Amava muito e não queria que isso tivesse acontecido. Mas ele quis assim. Chorei um mês e meio. E não sabia se era por ele ou pela minha mãe. Só sabia chorar. Como não podia me consolar nem com um, nem com outro, corri para minha irmã. Ela me ajudou muito. As pessoas, nessas horas, tomam remédio. Eu não. Eu tomava passiflora, fazia acupuntura e, à noite, recorria à meditação da Louise Hay, autora de Você tem o poder da sua cura, um livro maravilhoso [que é uma espécie de bíblia da estilista]. A dor era tanta, que, no início, senti o sangue parar de circular pelo meu corpo.
MC Ele pediu a separação por estar envolvido com outra pessoa?
GC Prefiro não falar sobre isso. [Gloria pede que eu desligue o gravador, conta detalhes da separação e elogia o ex-marido. Segundo ela, “extremamente íntegro” ao assumir o que sentia.]
MC Quando vocês começaram a namorar, o Reinaldo, que é 11 anos mais novo, era seu assistente. Olhando para trás, onde acha que errou na relação? Talvez tenha sido muito maternal com ele?
GC Sou maternal com todo mundo, não só com ele. Então, não foi esse o problema. Tem gente que cuida e gente que é cuidada. O Reinaldo acha que não cuidei bem dele, mas eu sei que cuidei e ele cuidou bem de mim também. Ele foi um marido excelente e é por isso que eu sofri tanto quando ele disse que queria se separar. Foi uma morte. Existe outro Reinaldo agora. O anterior foi meu marido, querido, e as fotos dele continuam aqui em casa. Não tenho pressa de tirar. Mas ele morreu junto com a minha mãe. E nasceu um outro Reinaldo, que é só um amigo e o pai do Pedro. Aliás, se eu puder dar um conselho para quem se separa é: mate o seu marido. Fica mais fácil [risos].
MC Antes do Reinaldo você já havia sido casada. Como definiria a Gloria no amor?
GC Sou de namorar poucas pessoas por muito tempo, porque minha Vênus, em Virgem, não é fácil, é seletiva [de acordo com a astrologia, Vênus é o planeta do amor, que, no caso dela, está no metódico signo de Virgem]. Tive três grandes amores. O primeiro foi o Abraão Henrique Saponick, com quem fiquei seis anos. Depois, foi José Roberto de Oliveira, que era dono de uma tecelagem. Comecei a namorar aos 21 anos, me casei com ele aos 27 e separei aos 31. Pouco depois, comecei a namorar o Reinaldo.
MC Antes do Reinaldo você já havia sido casada. Como definiria a Gloria no amor?
GC Sou de namorar poucas pessoas por muito tempo, porque minha Vênus, em Virgem, não é fácil, é seletiva [de acordo com a astrologia, Vênus é o planeta do amor, que, no caso dela, está no metódico signo de Virgem]. Tive três grandes amores. O primeiro foi o Abraão Henrique Saponick, com quem fiquei seis anos. Depois, foi José Roberto de Oliveira, que era dono de uma tecelagem. Comecei a namorar aos 21 anos, me casei com ele aos 27 e separei aos 31. Pouco depois, comecei a namorar o Reinaldo.
MC Na época, ficou aflita para casar de novo? A sociedade cobra isso das mulheres...
GC Queria muito ter filho. E não era por pressão da sociedade, mas pela Lua em Câncer [risos]. Só não tive mais filhos porque não consegui. Amo as crianças e as coisas de crianças: Harry Potter, Mortal Kombat, a Bela e a Fera, andar a cavalo. Na cabala, dizem que a criança tem uma espontaneidade que nunca deveríamos perder. Isso é mágico. Não vejo a hora de ter netos. Imagine que alegria uma criança nesta casa? Só não adoto porque tenho trabalhado tanto que estou sem tempo para mim. Neste momento, sou minha prioridade.
MC O que o Pedro acha desse seu desejo de ser avó?
GC O Pedro ainda é menino. Tem só 19 anos e se divide entre Paris, São Paulo e Nova York. Quando me separei e minha mãe morreu, ele veio para cá e ficou direto comigo. Mas geralmente, fica lá e cá. O KCD, empresa que cuida da carreira dele lá fora, tem sede em Nova York. Ele é minha melhor criação. Na Saint Martin’s [renomada faculdade de moda da Inglaterra], disseram que o Pedro não podia estudar porque já sabia demais e ficaria entediado. Olha que absurdo! Só o networking já seria enriquecedor. No fim, o Pedro ficou em Paris, fez um curso excelente de modelagem. Mergulhou nos livros. Devorou Baudelaire e viu todos os filmes que podia.
MC Como Pedro, você também foi uma garota precoce?
GC Adorava fazer colagens, poemas e colares. Fiz colegial técnico visual de desenho em comunicação, o IADE. A gente pintava, desenhava e tinha aulas incríveis sobre a lei da expressão, o desenho de composição, francês, filosofia. Ali, fiz duas grandes amigas, a Ângela [Rangel, psicóloga] e a Marta [Muratório, arquiteta]. Como sempre gostei muito de dinheiro, inventávamos de tudo para consegui-lo! Até suco de papaia para digestão, eu vendi. Depois, como a Marta era sobrinha de um dos donos da Sharp, começamos a fazer biju com pecinhas de equipamentos eletrônicos. Aí um dia, indo comprar cordão para pôr nas bijuterias, conheci uma senhora no Shopping Iguatemi que fazia roupas de criança e propus que ela fizesse umas camisetas transadas para a gente vender. Deu tão certo que, em três meses, cada uma de nós podia comprar um carro com o dinheiro que ganhou! A vida era assim, “Ai, que vento”. “Nossa, tá chovendo?” “Não tem táxi? Tudo bem, tudo bem. Tá tudo lindo!”. Em 1974, quando abri a G com a minha irmã, as coisas foram ficando mais sérias.
MC Por quê? Você é muito exigente no trabalho?
GC Sou dura, mas afetuosa. A falta de obediência é o que mais me tira do sério. Há três meses, sonhei que pessoas não me obedeciam e acordei péssima! Pesadelo mesmo. A empresa tem regras e elas têm de ser cumpridas. Há dois anos, digo que não quero mais apostila para as vendedoras, quero um filme explicativo. Outro dia desses, quiseram me convencer de que poderíamos abrir mão do vídeo porque “as gerentes não querem” [imitando]. Fui obrigada a dizer: “Vem cá, e as gerentes sabem mais que o Bernard Arnault [presidente do grupo de luxo LVMH, que tem um videomodelo de treinamento]?”. Esse tipo de coisa me enlouquece. Gosto de funcionárias como as assistentes da personagem de Meryl Streep em O diabo veste Prada: obedientes.
MC Quantos funcionários você tem e como os contrata?
GC São cerca de 100 funcionários e, em 35 anos de loja, nunca demiti. Quem saiu foi porque quis ou se aposentou. Agora, só eu faço as contratações. Vejo se o candidato durou em lugares sérios, faço um monte de perguntas e fico sentindo a pessoa. Aí, ainda faço o mapa astral dela. Se for mau caráter ou desonesta, está lá. Estou com 58 anos, cansada e não quero mais qualquer coisa do meu lado.
MC Isso é maturidade, não?
GC É. Costumo brincar que nasci na Escandinávia e um disco voador me trouxe para a Bahia. Admiro a frieza dos escandinavos. No Brasil, somos muito quentes. Até para criticar, elogiamos. Sou contra. Parto do princípio que o interlocutor é inteligente e sabe que a crítica vai ajudá-lo a se aprimorar. Só que isso não é nada político, né?
MC Já se arrependeu de falar algo pouco político?
GC Prefiro ser sincera com relação ao que penso. Em reuniões da Abit [Associação Brasileira da Indústria Têxtil] ou da Abest [Associação Brasileira de Estilistas] falo muito sobre a imagem equivocada que vendemos do Brasil no exterior. Se não tivermos cuidado, em vez de exportar qualidade e bom gosto, será só brasilidade. Não sei se pega bem, mas eu falo. Digo as coisas mais duras, com amor. Na empresa, porém, pretendo mudar. Quero ser mais distante, mais business woman. Desde 2001, faço coaching com a [jornalista] Fátima Ali. Ela me ensina a pensar além da roupa e a ver a fábrica com seus diferentes setores. Logo, logo vou até conseguir demitir [risos].
MC Qual o perfil da mulher para a a qual você desenha?
GC Hoje, 60% do meu faturamento é de roupa de festa. Pegamos uma faixa de mulheres que quer roupa
sofisticada. E também focamos na mulher que trabalha. Os ricos são só 1% do mundo, já as mulheres que trabalham, 20%. Ou seja, juntas, a juíza, a arquiteta, a dentista e todas elas têm um poder de consumo maior.
MC O que você acha de estilistas que vendem suas marcas para grandes conglomerados de moda?
GC Acho o máximo. Eu venderia. Tem um grupo aí que é muito bom [risos]. Não vou falar o nome porque quero me preparar bem antes de vender.
MC É verdade que você escolhe os horários de seus desfiles de acordo com a astrologia?
GC Todo cabalista prepara o céu para fazer os eventos. Se o céu estiver com facilidades, tudo dará certo. O Paulo Borges [diretor da São Paulo Fashion Week] sempre respeitou isso. É só pedir com antecedência. Ele é proativo, inteligente, trabalhador e talentoso. Não está lá por acaso.
MC Além da cabala, você é fã da astrologia, da numerologia, da física quântica. Como é isso?
GC Sou cabalista. Mas não concordo com 100% do que eles dizem. Na verdade, sou quântica. Outro dia fui ao curso de cabala e me falaram que a masturbação deve ser proibida porque, à nossa volta, há combatentes, forças negativas, querendo fazer uso das nossas secreções. Eu não concordo! Acho que a gente tem, sim, que se masturbar! Ainda mais quando não está transando [risos].
MC O que é “ser quântico”?
GC Todo cabalista prepara o céu para fazer os eventos. Se o céu estiver com facilidades, tudo dará certo. O Paulo Borges [diretor da São Paulo Fashion Week] sempre respeitou isso. É só pedir com antecedência. Ele é proativo, inteligente, trabalhador e talentoso. Não está lá por acaso.
MC Além da cabala, você é fã da astrologia, da numerologia, da física quântica. Como é isso?
GC Sou cabalista. Mas não concordo com 100% do que eles dizem. Na verdade, sou quântica. Outro dia fui ao curso de cabala e me falaram que a masturbação deve ser proibida porque, à nossa volta, há combatentes, forças negativas, querendo fazer uso das nossas secreções. Eu não concordo! Acho que a gente tem, sim, que se masturbar! Ainda mais quando não está transando [risos].
MC O que é “ser quântico”?
GC Segundo a física quântica, somos todos poeira de estrela, eu e você e todo mundo. Tem quem ache que isso é papo chato de autoajuda. Mas é ciência. E está muito bem explicado no livro-filme Quem somos nós, no qual vários pesquisadores dão seus depoimentos sobre o tema. Um deles [o japonês Masaru Emoto] fotografou as moléculas de água de uma fonte que recebeu a bênção de um monge budista e percebeu que, depois da bênção, elas tinham um desenho mais bonito e harmônico do que antes. Se cerca de 70% do corpo humano é água, um pensamento positivo teria esse mesmo efeito “do bem” sobre nós. Por isso, é tão importante a gente saber o que quer, para atrair a coisa certa. O problema é que nossos desejos nem sempre são claros. Me diga, agora: o que você quer de verdade da sua vida? Você não sabe...
MC E você, sabe?
GC Eu quero que minha coleção seja linda, comercial e inovadora; que o Pedro seja muito feliz, cheio de luz e energia. Boto tudo isso no livro quântico que estou escrevendo. Escrevo lá todos os meus desejos.
MC E, para você mesma, o que costuma pedir?
GC O mesmo que peço pro Pedro, muita luz. Alegria, alegria, alegria [fala 16 vezes a palavra alegria]. E um namorado bem lindinho também... MC Casaria de novo?
GC Casaria. Mas queria uma relação moderna, em que cada um tivesse sua casa. Já pensou que delícia poder visitar seu marido? Dormir na casa dele, e ele na sua? Sou 1 [na numerologia] porque nasci dia 1o [de agosto de 1951]. Por mais que goste de intimidade e de estar juntinho, adoro minha individualidade.
MC Com esse lado esotérico tão desenvolvido, você já recebeu alguma mensagem especial?
GC Todos os dias eu rezo pros meus anjos da guarda e para os de quem gosto. Já recebi mensagens deles. Há 14 anos, fiz um tratamento de abundância com a terapeuta floral Ruth Toledo. Depois de um mês de tratamento, há um dia em que dizem que você tem de falar com seus anjos. Eu estava no carro, dirigindo e recebi a seguinte mensagem: “Ajude as crianças pobres que isso é muito importante para você”. Parece mentira, mas quando eu cheguei à fábrica, um grande amigo que trabalha comigo disse: “Preciso fazer um desfile para crianças pobres, na praça da Sé, a pedido do consulado da França”. Fiz e foi maravilhoso.
MC Como a sensibilidade ajuda no trabalho? Lembro de um desfile, de 2005, em que as modelos vestiam pétalas. Era de uma delicadeza...
GC Meu signo é Leão, que no fundo não passa de um gato gigante, e tenho ascendente em Peixes [signo conhecido por sua sensibilidade]. A escolha das músicas, a maquiagem, a roupa, tudo constrói essa delicadeza. Mas esse desfile a que você se refere aconteceu no dia em que meu pai morreu [de mielofibrose, doença sanguínea que se assemelha a leucemia]. Ele faleceu às 3 h da manhã e o desfile foi às 3 h da tarde, do dia 3. Louco, né? É que meu pai era vibração 3. Nasceu no dia 21 [soma-se 2 com 1]. Nesse dia, não dei uma entrevista nem subi na passarela. Vim para casa e fui dormir. Na realidade, eu achava que meu pai não ia morrer... Olha que loucura. Fiz um desfile todo de flores justamente no dia em que deixei meu pai todo de flores [no caixão].
MC Como você lida com a passagem do tempo?
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GC Quando comecei a namorar o Reinaldo, que é muito mais novo que eu, pensei: “Não posso envelhecer”. Aí, a Lucia Curia, madrasta do Walter Sales, me passou o contato do Christian Durafour, um médico maravilhoso, de Paris, que faz controle biológico para evitar que a gente adoeça e envelheça. Mais de 25 anos se passaram e hoje, com 58, já sinto uma queda do rosto [levantando as maçãs]. Mas, quando chega a hora de fazer um trabalho, minhas células estão tão bem que tenho mais energia do que as crianças. Devo isso ao Durafour. Agora, envelhecer é fácil se você tem uma pessoa que continue o seu lugar. O Pedro não é a minha continuação na moda, é na vida.